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"Nada resta: junto à decadência
Das ruínas colossais, ilimitadas e nuas
As areias solitárias e inacabáveis estendem-se à distância". Shelley

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Não há o que se explicar sobre o que se trata Resident Evil. Portanto, vou direto ao ponto.

Dois conceitos me chamaram a atenção para RE2. Primeiro, a ideia de um inimigo imortal, Mister X, que ficaria no seu encalço quase o tempo todo e que elevaria seu medo à beira do insuportável. Segundo, a ideia de uma única história conectada por eventos diferentes vividos por dois personagens distintos. Achei que a união desses dois conceitos seria bem promissora. Mas, como se diz por aí, “achou errado, otário!”.

Falemos do senhor X. O que dizer desse ser? Deveras pitoresco! Houve esmero do pessoal da Capcom ao fazer o desing do personagem. Ele é imponente, anda por aí vestido em um sobretudo preto e usando um chapeuzinho vintage, possui uma cara fechada e um tanto enrugada, lembrado bem uma uva passa. Mas... é só isso. Andam dizendo por aí na internet que o senhor X é ameaçador; alguns dizem ser o mais ameaçador de todos no universo dos games. Em verdade, achei ele bem estúpido, e não vou chama-lo de re.tar.da.do mental para não ofender quem padece desse tipo de deficiência. Seja como for, se ele é realmente ameaçador como dizem, eu quem devo ter algum problema: sou algum tipo de psicopata ou coisa do tipo. Pois digo: não!, o senhor X não é ameaçador. Explico o porquê.

O senhor X um personagem completamente previsível: seus passos, embora por vezes abafados, sempre denunciam quando ele está por perto. Embora seja imortal, é extremamente fácil fugir dele, basta correr em sentido contrário. Mesmo quando ele te encurrala em algum lugar, isso não é problema. Nesses casos, basta dar alguns tiros na cabeça, daí ele se abaixa e você passa; ou então, se tiver uma arma mais potente, como a lança granada da Claire, basta dar um tiro no peito dele. Não tem armas? Não tem problema, amiguinho! Basta dar um drible no ataque dele (sim, isso é possível); depois do ataque, ele vai ficar um tempinho (cool down) sem te atacar, o que é suficiente para você passar. Não consegue se esquivar? Não tem problema, amiguinho! Mesmo que ele te acerte, não vai te matar; depois que ele acerta o golpe, você terá tempo para fugir (vai perder um pouco de hp, mas ainda estará vivo). E se ele me agarrar? Não tem problema, amiguinho! Para isso, basta andar com algum item de defesa no inventário, como granadas ou facas. Quando ele te agarrar, vai aparecer o botão para usar o item. Só usá-lo e então fuja. GG!

Vi um vídeo ainda hoje de um mod que transforma o senhor X em um trenzinho, tipo esses que vão a levar as crianças para um passeio dentro do shopping, tocando musiquinhas alegres. Ele é bem isso mesmo, um trenzinho para crianças, um Ursinho Pooh ou um Teletubbie. Minto! Teletubbies são mais freaks, bizarros, por conseguinte, assustadores.

Falemos da narrativa entrelaçada. Aqui foi onde tive minha maior decepção (vá lá, o mister trenzinho ao menos foi hilário). Novamente, vou levantar a hipótese de que seja um erro meu, um maldito erro de caráter, quiçá de cognição, a saber, querer que uma narrativa tenha coerência. Pois bem, há de se supor que se se trata de uma única história, vivida por dois personagens diferentes, porém unidos espaço temporalmente... bom, há de se supor nesse caso que os eventos que se sucedem com um devam interferir nos eventos que ocorrem com outro. Não é razoável pensar assim? Achou isso também? Achou errado, otário! Acontece que a sequência de eventos que ocorre com Lion não só não condiz com a sequência de eventos que ocorre com a Claire, como, o que é pior, são, em muitas partes, completamente contraditórias. Exemplifico. Você tem de resolver um puzzle. Para isso, precisa pegar algum item em algum lugar, digamos, umas peças de jogo de xadrez. Você está jogando com o Lion, pega as peças e resolve o puzzle. Quando vai jogar com a Claire, você precisa fazer o mesmo puzzle e pegar as mesmas peças. Mas espera, o Lion já não fez isso? Quem levou as peças para os lugares que estavam anteriormente? E mesmo se você jogar com a Claire primeiro, o mesmo puzzle vai aparecer para o Lion quando jogar com ele, como se a Claire não tivesse feito nada e como se magicamente as peças tivessem ido parar no seu lugar de origem.

Calma, ainda não acabou. Vejamos outro exemplo. Você precisa enfrentar um boss. Está jogando com o Lion, enfrenta o boss e o mata. Logo em seguida, vai jogar com a Claire e chega no ponto em que precisa enfrentar o mesmo boss, sob as mesmas circunstâncias (o que por si só já é completamente sem sentido). Contudo, pouco antes de enfrentar esse boss, você percebe, ao analisar as informações dadas pelo jogo e fazer uma concatenação simples de eventos, que você está enfrentando o boss em momento anterior àquele que Lion o faria. Pois bem, a Claire mata o boss, o que torna completamente incoerente o Lion enfrentar o mesmo boss, no mesmo lugar, algum tempo depois.

Podem achar que estou sendo exigente em demasia, talvez até chato, mas se o conceito que queriam vender é o de uma única história contemplada a partir de pontos de vista diferentes, a Capcom fracassou miseravelmente nesse objetivo. Não há qualquer unidade narrativa, qualquer unidade lógica que una a sequência de eventos entre a jornada de ambos personagens. Pois bem, imaginem se realmente o que acontece na sequência de eventos de um personagem repercutisse verdadeiramente na de outro... Imaginem, agora, se o Mister X fosse realmente assustador, fosse mais que um piuííí tic tac tic tac tic tac. Imaginou? Se fosse esse o caso, RE2 seria um jogo verdadeiramente memorável – memorável para além da memória emocional de quem padece de saudosismo. Enfim, seria de explodir a cabeça!

E devem se perguntar porque, depois de todas essas críticas, ainda recomendo o jogo. A resposta é muito simples: ele me divertiu. Ora, não é esse o objetivo geral de um jogo? Embora falhe nas partes, RE2 tem sucesso no seu todo, principalmente considerando o preço bastante honesto cobrado por ele. De toda a experiência, os pontos que acho mais positivos no jogo são seus puzzles, a jogabilidade, o combate e a ambientação. Aliás, a ambientação, com seu climão gostoso de filme de terror da década de 80, foi o que me fez imergir mais profundamente no gameplay. Se tivesse que dar uma nota, seria 8/10.

Desde já estou no aguardo do remake de RE3. Dizem as más línguas que há um tal de Nemesis, personagem hiper, mega, blaster assustador. Vai ser igual o mister trenzinho? Ai que meda!
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Half-Life 2
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