Há algo de profundamente contraditório na natureza humana. Carrega em si a capacidade de criar beleza, arte, ciência, afeto, mas escolhe, com frequência perturbadora, o caminho da destruição. É como se a própria consciência, em vez de libertá-lo, o empurrasse para um abismo cavado por suas próprias mãos.

O homem, ao descobrir que pode dominar, quis possuir. Ao perceber que podia acumular, esqueceu de partilhar. A ganância não nasceu do nada, foi cultivada como virtude. E, assim, tudo passou a ter preço, até aquilo que jamais deveria ter valor, como a vida, o tempo, a terra, o outro.

As guerras são apenas a face mais ruidosa dessa fome insaciável. Não são desvios, são consequências. Roma, Tróia, Vietnã, Ucrânia, nomes diferentes para a mesma tragédia, o desejo de poder sobrepondo-se à dignidade. Matam em nome de ideais, mas por trás sempre há um cálculo, uma ambição, um mercado.

A destruição não é um acidente. É projeto. É o fim lógico de uma espécie que aprendeu a explorar tudo ao seu redor sem jamais olhar para dentro. Que ergue cidades sobre cinzas, impérios sobre cadáveres, economias sobre miséria.

No fim, não será a natureza, o tempo ou o acaso que nos extinguirá. Será o próprio ser humano, consumido por aquilo que julgava controlar. Não por ignorância, mas por escolha.

Enquanto o ser humano se divide por ambição, os outros animais vivem em harmonia com seu grupo. Lobos caçam juntos, formigas constroem em conjunto, golfinhos se protegem mutuamente. Não acumulam, não traem, não guerreiam por poder. Eles entendem, sem precisar dizer, que a força está no coletivo, e não na dominação.