Guthor
Augusto Cesar Kloster   Carambei, Parana, Brazil
 
 
Jogador de FPS e RPG, amante de ficção científica e fantasia, morador de uma cidade pequena e ainda solteiro. :soviet:
Currently Online
Nosso Tempo - Carlos Drummond de Andrade
Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.

II

Esse é tempo de divisas,
tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
obscenos gestos avulsos.

Mudou-se a rua da infância.
E o vestido vermelho
vermelho
cobre a nudez do amor,
ao relento, no vale.

Símbolos obscuros se multiplicam.
Guerra, verdade, flores?
Dos laboratórios platônicos mobilizados
vem um sopro que cresta as faces
e dissipa, na praia, as palavras.

A escuridão estende-se mas não elimina
o sucedâneo da estrela nas mãos.
Certas partes de nós como brilham! São unhas,
anéis, pérolas, cigarros, lanternas,
são partes mais íntimas,
e pulsação, o ofego,
e o ar da noite é o estritamente necessário
para continuar, e continuamos.

III

E continuamos. É tempo de muletas.
Tempo de mortos faladores
e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,
mas ainda é tempo de viver e contar.
Certas histórias não se perderam.
Conheço bem esta casa,
pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,
a sala grande conduz a quartos terríveis,
como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na mesa,
conduz à copa de frutas ácidas,
ao claro jardim central, à água
que goteja e segreda
o incesto, a bênção, a partida,
conduz às celas fechadas, que contêm:
papéis?
crimes?
moedas?

Ó conta, velha preta, ó jornalista, poeta, pequeno historiados urbano,
ó surdo-mudo, depositário de meus desfalecimentos, abre-te e conta,
moça presa na memória, velho aleijado, baratas dos arquivos, portas rangentes, solidão e asco,
pessoas e coisas enigmáticas, contai;
capa de poeira dos pianos desmantelados, contai;
velhos selos do imperador, aparelhos de porcelana partidos, contai;
ossos na rua, fragmentos de jornal, colchetes no chão da
costureira, luto no braço, pombas, cães errantes, animais caçados, contai.
Tudo tão difícil depois que vos calastes...
E muitos de vós nunca se abriram.

IV

É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso
na esquina. Tempo de cinco sentidos
num só. O espião janta conosco.

É tempo de cortinas pardas,
de céu neutro, política
na maçã, no santo, no gozo,
amor e desamor, cólera
branda, gim com água tônica,
olhos pintados,
dentes de vidro,
grotesca língua torcida.
A isso chamamos: balanço.

No beco,
apenas um muro,
sobre ele a polícia.
No céu da propaganda
aves anunciam
a glória.
No quarto,
irrisão e três colarinhos sujos.

V

Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa,
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso.
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida,
mais tarde será o de amor.

Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem.
O esplêndido negócio insinua-se no tráfego.
Multidões que o cruzam não vêem. É sem cor e sem cheiro.
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul,
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões,
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.

Escuta a hora espandongada da volta.
Homem depois de homem, mulher, criança, homem,
roupa, cigarro, chapéu, roupa, roupa, roupa,
homem, homem, mulher, homem, mulher, roupa, homem,
imaginam esperar qualquer coisa,
e se quedam mudos, escoam-se passo a passo, sentam-se,
últimos servos do negócio, imaginam voltar para casa,
já noite, entre muros apagados, numa suposta cidade, imaginam.
Escuta a pequena hora noturna de compensação, leituras, apelo ao cassino, passeio na praia,
o corpo ao lado do corpo, afinal distendido,
com as calças despido o incômodo pensamento de escravo,
escuta o corpo ranger, enlaçar, refluir,
errar em objetos remotos e, sob eles soterrados sem dor,
confiar-se ao que bem me importa
do sono.

Escuta o horrível emprego do dia
em todos os países de fala humana,
a falsificação das palavras pingando nos jornais,
o mundo irreal dos cartórios onde a propriedade é um bolo com flores,
os bancos triturando suavemente o pescoço do açúcar,
a constelação das formigas e usurários,
a má poesia, o mau romance,
os frágeis que se entregam à proteção do basilisco,
o homem feio, de mortal feiúra,
passeando de bote
num sinistro crepúsculo de sábado.

VI

Nos porões da família
orquídeas e opções
de compra e desquite.
A gravidez elétrica
já não traz delíquios.
Crianças alérgicas
trocam-se; reformam-se.
Há uma implacável
guerra às baratas.
Contam-se histórias
por correspondência.
A mesa reúne
um copo, uma faca,
e a cama devora
tua solidão.
Salva-se a honra
e a herança do gado.

VII

Ou não se salva, e é o mesmo. Há soluções, há bálsamos
para cada hora e dor. Há fortes bálsamos,
dores de classe, de sangrenta fúria
e plácido rosto. E há mínimos
bálsamos, recalcadas dores ignóbeis,
lesões que nenhum governo autoriza,
não obstante doem,
melancolias insubornáveis,
ira, reprovação, desgosto
desse chapéu velho, da rua lodosa, do Estado.
Há o pranto no teatro,
no palco ? no público ? nas poltronas ?
há sobretudo o pranto no teatro,
já tarde, já confuso,
ele embacia as luzes, se engolfa no linóleo,
vai minar nos armazéns, nos becos coloniais onde passeiam ratos noturnos,
vai molhar, na roça madura, o milho ondulante,
e secar ao sol, em poça amarga.
E dentro do pranto minha face trocista,
meu olho que ri e despreza,
minha repugnância total por vosso lirismo deteriorado,
que polui a essência mesma dos diamantes.

VIII

O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
prometa ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta
um verme.

Screenshot Showcase
Hoje Half Life quebrou seu recorde de jogadores simultâneos, mais de 12 mil jogadores, orgulho de quebrar esse recorde e esse jogo !
1
Video Showcase
CSGO - Cache epic dodged
1
Recent Activity
96 hrs on record
last played on 28 Nov
1.8 hrs on record
last played on 28 Nov
259 hrs on record
last played on 16 Nov
BiihTiger 26 Sep @ 8:26pm 
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⣼⠓⢄⠀⠀
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⢀⠏⢹⠀⠀⠱⡀
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⢰⠀⢸⠀⠀⠀⠘⠄
⣤⣤⡤⢤⣀⣀⠀⠀⠀⠀⢀⠃⠀⠈⠒⠢⢤⡀⡁⠀⠀⠀⠀⢀🍒⣤⠤⢄⣀
⡏⠉⠒⠒⠤⡀⠉⠙⠊⠁⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠈⢺⠀⠀⠀⣠⠞⢛⠛⠋⡈⡀⠌⢣
⠸⡀⠀⠀⢀⠎⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⢀⡖⠛⠲⠀⠀⠱⠀⠀⡎⠄⡁⠄⡁⠄⡀⠄⡁⠸⡀
⠀⠱⡀⠀⡎⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠈⠃⠀⠀⠀⠀⠀⠨⠀⢘⠡⡀⠄⡀⠄⡀⠄⡀⠨⡎
⠀⠀⠈⠺⡇⠀⢀⡞⠉⠉⠂⠀⠀⠀⢀⠀⠀⠀⢀⣹⡉⡩⢢⡀⠄⡀⠄⡀⠄⣠⠏⡅
⠀⠀⠀⠀⢇⠀⠈⠃⠀⠀⠀⣀⠜⠓⢻⠀⠀⠀⡰⠗⠉⠀⢀⡍⢦⣄⣤⣴⠟⠋⠀⡸
⠀⠀⠀⠀⢣⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠑⠤⠜⠀⠀⠊⠀⠀⢀⠞⠉⠀⠀⠈⢣⣀⣠⠤⠚⠁
⠀⠀⠀⠀⠀⡳⠧⡥⢦⣆⡀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠠⠊
Daegel🥀 23 Dec, 2023 @ 1:17pm 
▅ ╱▔▔▔▔▔▔▔╲         .★(░)★
▕▕╱╱╱╱╱╱╱╱╱╲╲       .✰/█✰
▕▕╱╱╱╱╱╱╱╱▂▂╲╲       .✰/██✰
╱▂▂▂▂▂▂╱╱▂◤◥▂╲╲      .✰/███✰
▔▏▂┗┓▂▂▕░░░░░░░▕▔     ..✰/████✰
░▌┍┯┑┍┯┑▌░▛░░░▜░▌  _██__✰{█████}✰
░▌┝┿┥┝┿┥▌░▌░░░░▍ ▌ .( • • ) ✰{██████}✰
░▌┕┷┙┕┷┙▌░▌░░░░▍ ▌ .─(░•░)─  _||_
░▌❥✿✿✿✿❥▍▩▩▩▩▩▩ ▌ ╬╬╬ (░ • ░)   \\__//
☸„„„„„„„„„☸„„„„„„„„„☸„„„„„„„„„☸„„„„„„„„„☸„„„„„„„„☸„„„„„„„„☸
✦ℳ𝒆𝓻𝓻𝔂 𝓒𝓱𝓻𝓲𝓼𝓽𝓶𝓪𝓼 & A Happy New Year ✦
Daegel🥀 24 Dec, 2021 @ 6:35am 
`´︶´¯`︶´`´︶︶´*★  ^v^  ┊❅  °☆ .   ☆ :. ☆   
  ) )  ⦅‖ ͇͇ ͇͇▃▇͇͇͌̿̿⌂͇͇▌..* ★  ☆ .   ★ ^v^  ° ❅  ☆ .   ★ ^v^  ° 
__̅̏̏̏̏̋̋̏̏▅̅̏̏̏̋̏_ ╱◥███████╲ ˆ...^v^ ˆˆ︵.︵...^v^︵¸ ❅  ° ╱◥◣  ☆ . * ★ * 
╱◥◣ ◥████◣▓∩▓∩║   MERRY CHRISTMAS & │∩ │◥███◣ ╱◥███◣
│╱◥█◣║∩∩∩ ║╲◥███╲   HAPPY NEW YEAR ╱◥◣ ◥████◣▓∩▓│∩
││∩│ ▓ ║∏ 田║▓ 田田 ▓ ∩║ ii--ii-- 2022 ii--ii--ii--ii │╱◥█◣║∩∩∩ ║◥█▓ ▓█
☸๑۩๑๑۩๑๑۩๑๑۩๑๑۩๑๑۩๑๑۩„„„„„„„„☸„„„„„„„☸„„„„„„„☸๑۩๑๑۩๑๑۩๑๑۩๑๑۩๑๑۩๑๑۩
Daegel🥀 29 Oct, 2021 @ 3:55pm 
──────▄▄───▐█─█▐███▐███▐███▐█─█
──▄▄▄█▄▄▄──▐█▄█▐█▄█▐█▄█▐█▄█▐█▄█
▄█▀█████▀█▄▐█─█▐█─█▐█──▐█──▄▄██
█───███───█
████▀─▀████▐─█▐██▐─▐─▐██ ▀█▐▐▐▀▐▀▐█▐
█▄▀▀▀▀▀▀▀▄█▐▀█▐▄█▐─▐─▐─█ ─█▐▐▐▀▐▀▐▐█
─▀█▄▄▄▄▄█▀─▐─█▐─█▐▄▐▄▐▄█ ─███▐▄▐▄▐─█
Rice N Potato 15 May, 2021 @ 9:11pm 
Tá jogando bem demais, irmão!
Só precisa dar uma trabalhada na comunicação, teamplay, posicionamento, coordenação, utilitário, timing, confiança, mira, economia, controle de spray, movimentação e noção de jogo que você vai virar um MONSTRO!
cachorro nossanossa 15 May, 2021 @ 8:24pm 
Dou muito valor em jogar com um amigo como você! É nóis!