Talvez você esteja olhando esta página enquanto se questiona: “Será que vale a pena comprar um jogo tão antigo e aparentemente datado?”. Sim, vale a pena. Deus Ex foi lançado em 2000 pela lendária Ion Storm - estúdio fundado por John Romero (um dos criadores de Doom) -, e faz um uso incrível do Unreal Engine 1. É como se quisessem preencher cada fragmento de processamento disponível no motor gráfico, e deixarei claro o porquê.


Vou tentar resumir para não entregar spoilers. O ano é 2052, e você controla um indivíduo apelidado de JC Denton, agente ciberneticamente aprimorado da UNATCO (United Nations Anti-Terrorist Coalition). Seu objetivo, obviamente, é resolver problemas envolvendo grupos terroristas e ameaças globais em geral. No início, esse é o contexto dado e você deve o seguir como um bom soldado treinado.

Eventualmente o jogo aborda assuntos conspiracionistas - experimentos, alienígenas, doenças, illuminati, e todos esses conceitos que já estamos acostumados a ver em documentários e artigos do sensacionalismo. Porém, o tema é tão bem desenvolvido que realmente acaba despertando o interesse.

Como um role-playing, o game apresenta decisões narrativas. Em síntese, é possível mudar o destino de personagens, fazer finais diferentes, evitar conflitos, etc. São muitas possibilidades, e dá para perceber o esforço que os desenvolvedores tiveram em detalhes do tipo. O mundo de Deus Ex reage às suas escolhas, e os NPCs comentam sobre sua performance nas missões.


Deus Ex foi um dos primeiros jogos de ação em primeira pessoa a usar mecânicas de RPG, mas ainda assim, conseguiu suceder com maestria. Você inicia a campanha e deve customizar alguns aspectos do protagonista, como o nome e as skills iniciais (habilidades com armas, eletrônicos, arrombamentos, etc), aquele ritual padrão de obras do gênero. Logo após, Denton é enviado para a primeira missão, iniciando em uma Liberty Island dominada por terroristas, e aqui passa a se tornar evidente a complexidade do design.

Seu objetivo no capítulo 1 é passar entre os inimigos e chegar ao seu líder, onde poderá escolher entre interrogá-lo ou matá-lo. Há vários jeitos de chegar até ele, seja entrando pela porta da frente, pelos fundos, por tubos de ventilação ou fazendo parkour em caixas empilhadas até o terraço; matando, desmaiando ou ignorando os inimigos pelo caminho. Consegue perceber a liberdade dada ao jogador? Se há uma porta trancada, você pode arrombar com um lockpick, explodir com uma granada, procurar algum terminal para abrir remotamente… Enfim, sei que isso é algo comum em jogos atuais, mas foi revolucionário no início do século, e querendo ou não, ainda consegue ser melhor executado do que em muitos títulos recentes.

Além das skills já mencionadas, o game também possui uma aba de upgrades corporais chamada de Augmentations, concedendo a possibilidade de inserir próteses eletrônicas e atualizações no corpo. Através deles, você pode conseguir habilidades específicas, como drones, invisibilidade, resistência à balas, entre outros. Como são limitadas, é importante investir apenas naquelas que favorecem o seu estilo de jogo. Por exemplo, se você gosta de jogar sigilosamente, seria mais interessante colocar uma prótese de camuflagem.

As armas são divididas em algumas categorias, mas as principais são as letais e não-letais (dardos tranquilizantes, bastões, e bombas de gás). Modificadores ficam distribuídos aleatoriamente, podendo melhorar uma arma com laser, mira, estabilidade e afins. Uma parte interessante disso é que a narrativa pode se modificar ao deixar alguém inconsciente em vez de matá-lo.

Há terminais e computadores espalhados pelos mapas, com acesso limitado por senhas. Essas senhas podem ser encontradas escondidas, mas também é possível burlar o sistema de segurança com skill de hacking. Tais dispositivos eletrônicos carregam uma certa importância no jogo, já que possuem e-mails explicando o contexto da história, ou softwares para desabilitar câmeras, torretas, abrir/fechar portas e outras funcionalidades. Tudo opcional, claro.

O mundo é semi-aberto, e bem variado. JC passará por becos em Manhattan, lojas em Hong Kong, catacumbas em Paris… Tudo com uma ambientação específica. Vale lembrar que o jogo também recompensa aqueles que buscam explorar o cenário, dando itens e experiência ao se adentrar em regiões mais profundas. Nunca é entediante andar pelo mapa.


Sim, o gráfico envelheceu mal e algumas mecânicas são robóticas demais. Porém, estamos no computador. A comunidade de modders é extremamente ativa, e possuem várias modificações que melhoram a experiência para algo mais atual, sem tirar a intenção dos desenvolvedores na época do lançamento. Os mods Deus Ex: Revision (que se encontra na loja da Steam para download) e GMDX são um ótimo exemplo disso, e os recomendo fortemente para quem deseja começar a jogar agora. Apesar desses impasses, é impossível não reparar na quantidade de possibilidades e conceitos colocados em um motor gráfico ultrapassado como o UE1.

Por último, mas não menos importante, eu gostaria de dizer o quão boas são as músicas nesse game. Sério, são incríveis. Depois de ouvir a música tema, você não vai parar de cantarolar enquanto prossegue na história.


Sem dúvidas, Deus Ex vale seu dinheiro. Essa obra prima da extinta Ion Storm representa toda a genialidade por trás dos RPGs de computador, e marca o início de experiências imersivas nos anos 2000, conseguindo manter horas cativantes até para jogadores mais casuais. Na verdade, é um desrespeito não o comprar durante as promoções, sendo que seu preço fica inferior a R$2,00.